quarta-feira, 22 de abril de 2015

FICHAMENTO DE CITAÇÃO - A SOCIOLINGUÍSTICA EM SALA DE AULA



Marconde Maia

MILANI, Sebastião Elias; SILVA, Daniel Marra da. A sociolingüística na sala de aula de língua portuguesa: uma investigação historiográfica S/D. Artigo apresentado em Pós- Graduação de Letras na UFG, Faculdade de Letras.


“A incorporação das teorias lingüísticas ao ensino de língua surgiu como uma forma de fugir da tradição normativa e filosófica. Essas teorias ofereciam perspectivas voltadas para reflexão da linguagem, isto é, processo de reflexão sobre a língua possibilitaria ao aluno compreender suas variedades e utilizá-las apropriadamente às situações e aos propósitos definidos.”

“Com a incorporação dessas teorias, o ensino de língua materna iniciou uma ligeira mudança de uma perspectiva centrada na tradição gramatical para uma perspectiva centrada na competência comunicativa do aluno.”

“Muito se tem discutido sobre o ensino de língua materna e as variedades padrão e não-padrão da língua. Desses debates emergem argumentos pouco esclarecedores, quando não equivocados.”

“Konrad Koener (1996, p. 57) diz que (...) provem apenas um relacionamento generalizado de que as teorias lingüísticas não se desenvolvem em total isolamento do clima intelectual geral do período ou das atitudes particulares mantidas pela sociedade que promoveu a atividade cientifica.”

“No inicio da década de 1960, Labov iniciou sua investigação empírica sobre a língua como ela é efetivamente empregada por falantes comuns, em suas interações verbais diversificadas, no contexto social em que vivem.”

“Labov percebeu que havia alguns problemas a ser resolvidos se a lingüística tivesse que ir ao encontro do que as pessoas diziam.”

“Em 1967, enquanto lecionava na Universidade do Columbia, Labov propôs uma pesquisa ao departamento de educação americana, no qual objetivava descobrir se o dialeto falado pelas crianças negras do Harlem (bairro de Nova Iorque) tinha alguma coisa a ver com o fracasso das escolas em ensiná-las a ler.”

“No Brasil, transformações no ensino de língua portuguesa começaram a se fazer sentir necessárias, a partir da década de 1960. Nesta década, o país enfrentava um momento de crise política, social e educacional.”

“Na busca por solução para o ensino de língua portuguesa, o governo assinou a “Lei 5.692”, que expressava uma orientação para o ensino de língua que misturava idéias tradicionais da gramática normativa com idéias da “teoria de comunicação”.”

“A abertura política possibilitou rediscutir o ensino da língua. As idéias lingüísticas definitivamente entram em debate e a gramática normativa foi questionada.  Foi nesse cenário, marcado por intensas discussões teóricas e metodológicas do ensino, que a sociolingüística trouxe para o centro dos debates a heterogeneidade e a diversidade lingüística.”

“Diferente da realidade norte-americana, em que preocupações relacionadas com questões étnicas e a alfabetização promoveram o desenvolvimento de investigação sociolingüísticas na sala de aula, no Brasil, os primeiros estudos apontaram que a principal causa da crise escolar, que possibilitou a interferência da sociolingüística nos debates, em defesa das variedades dialetais na sala de aula, foi o grandioso aumento demográfico das regiões urbanas, ocasionado pelas migrações rurais, nas décadas de 1960 e 1970.”

“Contudo, não se pode esquecer das investidas promovidas pela  Ditadura Militar, nos anos de 1960, pela “democratização do ensino”, que faz conviver no espaço da sala de aula experiências lingüísticas diversificadas.”

“Entre os pesquisadores envolvidos no debate por uma educação lingüística adequada à heterogeneidade lingüística brasileira, na década de 1980, estava Magda Soares (1986). Conforme apontava o senso de 1980, apenas 64,7% da população de 7 a 14 anos estava matriculada no ensino de 1º grau. ”

“Seguindo uma visão semelhante, nessa mesma década, estavam pesquisadores como Sírio Possenti e Rodolfo Ilari (1987). Esses autores argumentavam contra o uso da gramática normativa na sala de aula: “de todos os tipos de gramática que se podem hoje discriminar, a gramática normativa é sem dúvida a menos útil”.”

“Dessa forma, Magda Soares (op. cit., p. 61-62) diz que a escola colabora com a perpetuação de divisão de classes: fracassando na função de levar as camadas a permanecerem na condição de ‘dominadas’.”

“Magda Soares (1986) ainda ressalta que a escola apenas informa aos alunos das classes populares que existe uma maneira de falar considerada ‘legitima’, diferente daquela que eles dominam, “mas não os possibilita o acesso a essas formas de falar e escrever. Nega-lhes, pois, o acesso ao capital lingüístico socialmente rentável, por cuja aquisição essa mesma escola seria responsável ”.”

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

RELACÕES POSITIVISTAS ENCONTRADA NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS “O ALIENISTA” ENTRE OS PENSADORES SOCIOLÓGICOS: AUGUSTE COMTE, EMILY DURKHEIM, KARL MARX E MARX WEBER



Eleny Bezerra[1]
Marconde Maia[2]

No século XIX acontecia na Europa a Revolução Industrial e Francesa. As maquinas passariam a substituir a mão de obra, a burguesia estava preste a ter um colapso falêntico. A sociedade do engenho passaria a trabalhar nas cidades grandes e assim garantir seus sustentos na época. As pessoas já não garantiam manter-se da agricultura. Com a Revolução tudo mudaria simultaneamente e traria uma perspectiva negativa para a mão de obra e acarretaria futuramente um colapso chamado de “crise econômica”. Auguste Comte começa então a estudar os comportamentos desses seres sociais, que mudara no decorrer do período revolucionário, adotando sobre elas regras. Regras essas que Durkheim desenvolve e assim dando inicio ao positivismo social, já que os primeiros estudos de Comte era a sociedade e tinha como tema em sua obra “Física Social”. A Revolução Industrial mudaria totalmente o setor econômico em toda a região europeia dando origem ao positivismo econômico.
A obra “O Alienista”, escrita por Machado de Assis , em 1882, possui treze capítulos, satirizando o comportamento do homem, sua filosofia, mentalidades diante da sociedade, através de uma personagem chamada D. Evarista, que reconhece sua falência, fragilidade dentro de um asilo na cidade de Itaguaí, município do Rio Janeiro. Os fatos ocorrentes na abra Machadiana se dá em volta de um lugar chamado de “Casa Verde”, cujo abrigava os loucos do município. Machado escreve sua obra na metade século XIX, período em que o Brasil vivia o teor do positivismo. Os fundamentos e relações positivistas da obra machadiana com os pensadores sociológicos que descrevem o comportamento do homem em seu meio social serão discutidos neste trabalho. As relações sociais, o comportamento de Bacamarte diante da sociedade, as revoltas da população itaguaiense contra a “Casa Verde” e o fracasso do cientista que considerava todos os moradores como “loucos” será fundamentada e desenvolvida neste texto, relacionado com os pensamentos de Auguste Comte, Emily Durkheim. Karl Marx e Marx Weber.
No primeiro capitulo da obra temos o Dr. Simão Bacamarte, medico vindo da Espanha com 34 anos, casado com D. Evarista da Costa e Mascarenhas de 25 anos. Este que constrói na pequena cidade um asilo para abrigar loucos que possivelmente existiria em Itaguaí, o nome do abrigo se deu “Casa de Orates” e toda a população festeja o grande feito pelo doutor. A Casa de Orates passou a ser chamada de Casa Verde, devido uma alusão dada as janelas do asilo e principalmente pelo fato de no município não havia cor verde. A cor retratada e dada o nome do asilo simboliza o positivismo dentro da pequena cidade. O padrão da cor exposto à casa é vista como um marco importante para retratar a forma positivista dotada de combinação e organização da administração da casa para com a sociedade.
Em Itaguaí a Casa de Orates tinha como objetivo buscar e resgatar as pessoas com loucuras e dar esperanças a estas de um dia poder voltar à sociedade de forma “normal”. A cor verde significa em sua totalidade esperança e é postadana casa como um símbolo não por acaso, mas de que um dia pudesse repor ao meio social aquelas pessoas que eram tratadas por Simão Bacamarte como loucas.
O posicionamento de Bacamarte diante da sociedade em construir, na cidade de Itaguaí a casa verde, relembra Auguste Comte, quando estudando o comportamento do ser humano, após a revolução francesa, no século XIX, quando Comte analisa o comportamento do individuo dentro do seu meio social, abalada com a crise econômica vivida naquele período.
Enquanto que o objeto de estudo de Comte na época era a sociedade e posto o nome de “Física Social” para tentar explicar a relação do homem com o meio em que vive, dando origem aos primeiros estudos da filosofia sociológica, posteriormente a sociologia como ciência, Bacamarte estudava em Itaguaí, município do Rio de Janeiro, o comportamento do homem voltada a loucura, cujo era o seu oprincipal objeto de pesquisa. Bacamarte construíra em sua casa um laboratório para a execução dessas pesquisas detectando que em Itaguaí havia seres loucos, propôs-se diante da sociedade e da religião como é encontrada na obra machadiana, a construção da Casa de Orates buscando resgatar esses loucos e pondo a esperanças de pôr-nos na sociedade de forma “normal”.
Nota-se que no segundo capitulo da obra “O ALIENISTA”, que a Casa Verde como ficou conhecida a Casa de Orates pela sociedade local, devido a alusão a cor, que simboliza a esperança é preenchida demasiadamente por loucos vindos de muitos lugares. Encontravam-se no asilo, os loucos furiosos, os mansos, monomaníacos... seja de todo o tipo de comportamento, formando uma micro sociedade dos loucos, dificilmente de conter as diferenças e o relacionamento entre si.
Bacamarte isonerado de seu cargo como administrante, tem a grande ideia de dividir essa torrente de loucos em duas grandes classes sociais, os furiosos e os mansos, após em subclasses, monomaníacos, delírios e adjacentes. Essas divisões de classes sócias entre os loucos na Casa Verde feita pelo cientista, relaciona-se ao pensamento de Karl Marx, que propõe dentro da sociedade na época um pensamento revolucionário, em dividir a sociedade capitalista em classes sociais, ficando os ricos conjecturando-se aos loucos furiosos que Bacamarte realiza dentro da casa e aos pobres co-relacionadosaos loucos mansos da casa e demais subclasses sociais, levando o individuo a tomar um novo pensamento de escolhas, dando origem ao “LIBERALISMO”.
Decorrente a obra machadiana, visto que o asilo dos loucos, ou a casa verde com o ficou chamada tornaram-se pequenas para tantos, Bacamarte tem a ideia de ampliar o lugar, uma vez que seus estudos eramvoltados à loucura, tornando extraordinário para o Boticário que crítica a ideia como um “caso de matraca.” O pensamento do cientista em ampliar a casa verde, é vista também por Emily Durkheim, que desenvolve o pensamento sociológico de Comte para com a sociedade capitalista, sistematizando em regras quando o individuo deveria seguir.
Durkheim apresenta três fatores sociais, a coesão social, a existência sobre o individuo e generalidade do individuo, voltada as regras sociais construída por Comte e posteriormente desenvolvidas por ele.
No quinto capitulo da obra ver-se o terror da sociedade ocasionado pela detenção de Costa, cidadão de bem e mais estimado da cidade de Itaguaí. A população revolta-se não contra a casa mais pelo desencadeamento de Bacamarte diante da sociedade que passara a ser chamado como um tirano, ser opressor, cuja população o queria distante daquela cidade.
Itaguaí já não se tornara a mesma, os suspiros, os gritos, as manifestações ainda estariam por vir diante de toda a desgraça, ocasionado pelo cientista dentro do meio social.
A revolta dos moradores de Itaguaí não era apenas um único gesto de arrogância, ora o cientista, que agra é considerado como um tirano pela sociedade estudava subitamente os comportamentos das pessoas “loucas” que estavam detidas na casa, não conseguia ouvir os brados da população em demolir a Casa Verde. D. Evarista sua esposa ouvira, porem, não ligava, a mesma experimentava o vestido de seda que havia trago do Rio de Janeiro.
A rebelião que começara na câmara por trinta pessoas contra as atitudes do cientista, agora tomava força nas ruas da cidade, já não era mais trinta e sim trezentos os rebelados. Vozes, manifestações, brados, entoavam cada vez mais fortes na pequena cidade. Em 1992, no Brasil, as manifestações da população, que ficou conhecida como “os caras pintadas” entoavam nas ruas das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo; com gritos fortes todos diziam “Fora Collor” que para essas pessoas este era considerado como um hierárquico no poder.
Seria, pois, o fim da Casa Verde e o começo de uma nova mudança para a população de Itaguaí? No nono capitulo, é possível ver o clamor dos rebelados diante das tropas itaguaiense, a população queria a libertação de seus entes queridos e da cidade. Bacamarte já estava entregue aos reclames itaguaiense. Um cientista, um dominante, um tirano, um alienista, preso por suas más condutas diante da sociedade que se libertara naquele instante.
O assombro toma toda Itaguaí quando se descobre que todos os “prisioneiros” da Casa Verde seriam libertados, ninguém podia acreditar em tanta repugnância do cientista em oficio mandado à câmara. Todos festejavam total liberdade da cidade. Essa liberdade pode ser vista nos pensamentos de Marx Weber, que diz que a sociedade tem o total poder de manifestar-se visando os direitos e deveres que o individuo possui no meio social. Weber atribui dois aspectos importantes na sociedade, a histórica – respeitando as particularidades do individuo na sociedade em que vive, e a sociológica – influenciando os interesses do individuo, respeitando suas razoes e emoções.
O cientista é entregue aos clamores da população da cidade. Vendo que não lhe restara mais nada, este se encontra em duas posições de toda a sua vida. A primeira do gozo de ter curado os considerados loucos e outro ponto a amargura do fracasso de seu pensamento cientifico derrotado pela sociedade em meias manifestações. O trágico pensamento do cientista que tudo estaria acabado, a ciência vencida o leva ao suicídio.
Toda a cidade estava liberta de tanta malévola dotada por Bacamarte. Tudo volta em sua ordem. O comportamento humano, as relações estavam como antes da chegada do cientista na cidade. A obra machadiana “O ALIENISTA”, nos leva a refletir na sociedade em que vivemos atualmente, visto que em 2013, uma manifestação ocorrida em todo o Brasil e dado o nome de “O GIGANTE ACORDOU”, voltava-se diante dos interesses da sociedade brasileira, visando melhorias nos transportes, saúde, infraestrutura, educação e adjacentes. Os direitos da sociedade eram entoados em manifestos, pedindo a contribuição do poder público para buscar investir de forma significativa aos pedidos feitos pela população sofrida e esquecida.

REFERÊNCIA
ASSIS, Machado de. Helena* O Alienista.1º ed. Rio de Janeiro; Primor; 1882.
BARBOZA, Sergio de Góes. Sociologia: serviço social. São Paulo: Pearson Prentice, 2009.
CODÓ, Wanderley. O que é Alienação? 5° ed. Coleção: primeiros passos. SP; brasileinse;1988.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2º Ed – São Paulo; Moderna, 1997.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia?5º ed. São Paul


[1] Acadêmica do 6° período do curso de Letras, no Centro de Estudos Superiores de Parintins, CESP-UEA.
[2] Acadêmico do 6° período do curso de Letras, no Centro de Estudos Superiores de Parintins, CESP-UEA.

A EDUCAÇÃO EM MARX



Marconde Maia[1]

A educação pode ser constituída como um processo resultante na formação do conhecimento do individuo dentro de uma sociedade influenciando suas relações no meio social em que vive. Piletti (2010) diz quer as circunstancias em que o ser humano vive influencia na sua educação, mas que este também transforma a educação herdada de geração em geração.
Marx (1978) não considera a educação uma realidade externa, mas em relação social entre os indivíduos das classes sociais. Isso quer dizer que a educação, quanto ao pensamento capitalista, confirma a alienação do homem em setores de divisão de trabalho, difundindo uma consciência parcelarizada que aceita a divisão entre concepção e execução, entre trabalho intelectual e braçal.
A educação pode ser considerada como uma superestrutura social que guarda correspondência como o estagio de desenvolvimento das forcas produtivas e da divisão social do trabalho. Essa divisão trata-se em disciplinar as crianças a aceitarem as formas de trabalhos imposta para que estas não critiquem o sistema quando forem alocadas no mercado capitalista.
A educação deve ser concebida pela sociedade como um processo de formação do ser que ao mesmo tempo é um produto histórico de transformação, tornando-o critico da realidade existente no campo educacional. O contexto social em que o homem está inserido pode interferir no seu aprendizado, bem como, no ensino. Neste caso o educador deverá ser educado para que o conhecimento do aluno não torne algo isolado no meio social em que este vive. 


[1] Acadêmico do 6º período do Curso de Letras da Universidade Estadual do Amazonas – CESP/UEA.

AS VIAGENS DE ENEIAS NA OBRA VIRGILIANA E SUAS RELAÇÕES COM AS OBRAS HOMÉRICAS: ILÍADA E ODISSEIA.



Marconde Maia[1]
WebersonGrizoste[2]

Resumo: Este presente artigo irá retratar a história da Literatura Latina que está dividida em dois períodos distintos. O termo se dá ao corpo de obras literárias escritas na Língua Latina, que constrói um legado duradouro da Cultura Romana, permanecendo até os dias atuais. Serão discutidos também os principais escritores Latinos que se destacam como Catulo, Horácio, Plauto e, principalmente, Virgílio com o Poema épico Eneida, obra que será relacionada comas obras épicas Odisseia e Ilíada, de Homero, escritor grego. As três obras terão fatores relacionados no decorrer deste artigo focalizando as viagens prolongadas e aventureiras dos heróis contidos nas obras.

Palavras – Chave: Literatura Latina. Eneida. Ilíada. Odisseia.


A Literatura Latina está divida em períodos distintos. Este nome se dá ao corpo de obras literárias escritas na Língua Latina, construindo um legado duradouro da Cultura Romana, permanecendo até os dias atuais. Neste período os literários romanos escreviam comédias, tragédias, poesias, buscando retratar em suas obras a origem de Roma, preservando a cultura romana, baseadas nas tradições de outras culturas, neste caso, nas obras literárias gregas.
Na Literatura Latina além de outros escritores como Catulo, Horácio, Plauto, Ovídio e demais, destaca-se Virgílio – com o Poema épico Eneida que será relacionado com as obras épicas Ilíada e Odisseia de Homero, poeta grego. Tais obras que contam a história de heróis que lutam por sua cidade.
O termo épico designa um poema heróico protagonizado por um ou vários personagens caracterizados por suas ações. A epopeia em geral celebrará o feito mais representativo de um povo, manifestando seus sentimentos nacionalistas. Na concepção clássica, a epopeia se caracteriza em três gêneros: o épico – predominado pela objetividade da escrita; o lírico – prevalecendo a subjetividade e o dramático – entrelaçando-os.
A epopeia tem em comum o caráter espontâneo, sendo popular ou coletivo, constituindo-se pelo modo de como as lendas eram transmitidas aos leitores. Em geral, contam histórias de heróis que buscam nas batalhas construir seus impérios ou lutar por seu império em defesa de um povo. Além disso, constam também as viagens prolongadas e aventureiras desses heróis. É possível ver o aparecimento de elementos sobrenaturais, fundamentando o épico na poesia. Estes elementos épicos podem ser visto em Ilíada e Odisseia, obras escritas por Homero, que terão fatos relacionados com a obra virgiliana Eneida neste artigo.
Eneida, obra épica latina escrita por Virgílio no século I a.C, focaliza a saga de Eneias pelo mar mediterrâneo ate chegar à península itálica. Eneias é um troiano que foi salvo dos gregos. A Eneida é uma epopeia feita por encomenda pelo imperador de Roma, Augusto. Virgílio escreve este poema contando a história de Roma, retratando o poder do império romano. A obra virgiliana é composta por 12 cantos, sendo, pois, uma obra incompleta e inacabada.
Virgílio ao escrever Eneida inspirou-se em Homero, que escreveu Ilíada e Odisseia. Portanto, a Eneida é metade iliática e metade odisseica e, em geral, os livros de 1-6 são relacionados com a Odisseia e os de 7-12 relaciona-se com a Ilíada[3].
A passagem no primeiro livro da Ilíada, onde Tétis intercede para Zeus glorificar o seu filho, ato que culmina com a morte de Heitor, encontra-se um paralelo no poema latino quando Vênus exige o cumprimento da promessa do deus, da raça que deveria nascer do sangue de Teucro[4]. 
A Odisseia, Obra homérica, foi, provavelmente, escrita no século VIII a.C. É um poema épico composto por 24 cantos narrando toda a trajetória de Ulisses em duas partes. A primeira compreende os acontecimentos vistos em 09 capítulos, quando o herói é afastado de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Posêidon[5]. A segunda parte é composta por mais 09 capítulos descrevendo o retorno do herói a Ítaca, sob a proteção de Atena[6].
A Ilíada, narra o drama do herói Aquiles, filho da deusa Tétis e do mortal Peleu rei de Ftio. É uma epopeia com 24 cantos que é narrada em torno da guerra de tróia que teve duração de 10 anos. Toda a obra é derivada de Ílion, nome grego dado a cidade de Tróia. De acordo com a lenda, a guerra de Tróia foi motivada pelo rapto da princesa grega, Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, por Páris, filho do rei Príamo, de Tróia. Agamêmnon arrebatara Aquiles, o mais voroso guerreiro grego para a guerra. Começa o inicio da Ilíada com o primeiro canto cito na obra:

Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
 A ira tenaz, que, lutuosa aos gregos,
Verdes no areo lançou mil fortes almas,
Corpode herói ações e abutres postos[7].

A Eneida não pode ser vista como uma mera tradução da Odisseia e da Ilíada, visto que possui um mosaico de passagens épicas que Virgílio escolheu e adaptou cuidadosamente em sua própria palavra num mundo digno de classificação semelhante ao de Homero.[8] Para muitos críticos esta obra é considerada como uma epopeia copiada de Homero, possuindo aspectos de verossimilhanças entre os personagens principais das obras. Eneias representa a raça de Heitor, em caráter iliádico, agora na posição de Aquiles.

Esta obra é uma epopeia invertida, porquanto nela ocorre a desconstrução das obras homéricas não apenas no sentido temporal, mas também no que toca ao papel dos próprios personagens: Eneias representa a raça de Heitor, agora na posição de Aquiles e Turno o novo Aquiles na posição de Heitor[9].

Por ser considerada uma obra invertida, Eneida de Virgílio, retrata as tradições vividas na época; as guerras e, consequentemente, derramamento de sangue e morte pode ser vista em todo o poema épico. As vitórias de Eneias são contidas em derrotas e a confraternização da paz entre as nações. Tornando-se um herói melancólico que se entrega de corpo e alma por seus companheiros às batalhas, a fim de destruir o inimigo e trazer de volta a Roma a paz.
O herói virgiliano está diante da guerra em Tróia nas pinturas de um templo em Cartago e lamenta pela morte de seus companheiros, assim como Ulisses, na obra homérica, Odisseia, chora ao ouvir o canto de Demódoco[10] no palácio de Alcino. O choro de Eneias é mais doloroso por ser um herói vencido, já Ulisses é um guerreiro vencedor.
Medeiros[11] diz que Virgílio é sem duvida o próprio Eneias, contando em seu poema sua própria história, suas viagens pelo mar mediterrâneo até a chegada em península itálica. Retrata ainda que Virgílio acreditava que mais longe, para além do Éter, mais tarde para além do tempo, o sangue e as lágrimas do herói derrotado hão-de florir em solos férteis.
Grizoste[12] retrata que Virgílio tece uma rede de intertextualização, controlada pela sua seleção a partir de sua leitura exercida em Homero se tornando de fato a evocação mais profunda do poeta grego[13]. Virgílio extrai para sua obra o sucesso e o insucesso das obras gregas: a Odisseia com as peripécias de um herói que regressa de um triunfo militar representado na Ilíada[14]. A obra virgiliana é contida de elementos semelhantes às obras homéricas. Ao escrever a Eneida, Virgilio buscou minuciosamente retratar seus personagens na concepção latina, elevando seu propósito de elencar a contextualização romana, em suas origens. As viagens, as guerras, o retorno do guerreiro romano são elementos vistos nas obras homéricas.
Eneias é o negativo de Ulisses, havendo diferenças entre os heróis. O herói homérico apesar de ser um peregrino é um astucioso, com objetivo de ganhar honra para si e regressa para junto de sua amada. Eneias afasta-se de sua pátria e caminha em busca de uma nova vida com objetivo de ser diferente em relação ao passado. Eneias quer um novo começo[15]. 
A maior epopeia da Literatura Latina, modelo para quantas escreveriam depois do ocidente, é Eneida, escrita no ano 29 a.C.“Embora o espírito da epopeia de Virgílio já estivesse bem distante daquele que iluminara a Ilíada e a Odisseia, suas fontes de inspiração, o autor da Eneida era o dono de um verso magistral, musical, que conquistaria toda a Europa medieval e cristã” [16].

No canto XIII, presente na Odisseia, narra o retorno de Ulisses a sua cidade, ao seu reino.

Calam-se todos, em deleite absorttos,
 Pela ampla sala opaca. E Alcino: “Ulisses, Pois que viestes ao meu palácio aênio,
Teus males findos creio e teus errores.
Vos que abranda em harmonia e o vinho da honra
 Gozai sem meus fetins, às ricas vestes
 E ouro acendrado n’arca sua inclusos
 Dádivas dos senhores, por cabeça
Grandes bacia e trípode ajuntai-me;
Já sós não bastamos, brinde o povo
 Conosco à larga este hospede bizarro[17].

Observa-se o convite de Alcino a Ulisses para participar de um banquete no palacio. Ulisses é recebido e também é presenteado pelos príncipes convidados por Alcino. A narrativa é considerada magistral, um encontro que se diria o momento mais importante de toda a obra. Ulisses está em despedida para seu reino. Na tarde do dia seguinte retorna à Ítaca, sua cidade.
Os épicos homéricos certamente fazem muitas referencias à realeza. Mas a frequência em Virgílio é significamente maior do que de Homero, e Eneias é de fato o símbolo da monarquia augustana dentro da poesia, pois é configurado como o fundador da origem romana[18].
No VI[19] canto de Ilíada vemos o encontro de Heitor e Eneias que lutam juntos e evitam que os troianos fujam da batalha. Toda a narrativa é dada em um campo de guerra contra os troianos. Na representação de que Eneias representa a raça de Heitor visto neste canto, Willians[20] aponta que Virgílio foi fraco em seu herói, comparando com Aquiles este é a sombra de um homem. Ficando claro neste canto.
Outra característica presente na obra virgiliana, tendo relação com as obras homéricas Ilíada e Odisseia, está presente no final do segundo livro de Eneida, onde Eneias busca abraçar a penumbra de sua esposa, tudo em vão. Indicando a verossimilhança do personagem virgiliano com os personagens homéricos, Aquiles e Ulisses.

Furente as casas lustros, e saio e torno,
Quando a sombra da esposa, imagem triste
Maior que dantes se me avulta os olhos,
Pasmo, hirta a coma a voz se apega às fauces
Ei-la afável me alenta e assim me acalma:
“Que vale a dor sobeja, ó doce esposo
Sem nume isto não é: levar Creusa
Te veda o fado, o regedor sublime
Do Olimpo o não concente[21].

No vigésimo terceiro canto de Ilíada, Aquiles tenta abraçar a penumbra de Patroclo. O herói homérico faz os funerais de Patroclo e também organiza jogos fúnebres aos convidados. Toda poesia é contida em festas.

Após ele, os Aqueus nas crimpulcras   
Bigas circundam três vezes Patroclo,
E Tétis exacerba o luto e o pranto; (..)
Em soluço Aquiles urra impondo
As homicidas mãos do sócio aos peitos:
“Salve, Patroclo, na Plutônia estância!
Hei-de a palavra encher: Heitor em pasto
A cães dar; em vingança, doze ilustres
Jovens de Ílion ante a pira degolar-te”.[22]

Nota-se a ira de Aquiles ao ver Patroco morto e jura a morte de Heitor na guerra de Tróia. O desejo de vingança do herói iliádico é claramente visto no poema.
No décimo primeiro livro de Odisseia, Ulisses tenta abraçar a penumbra de sua mãe.   Fatos que se assemelham em Eneida de Virgílio.
      
Aguardei minha mãe, que o negro sangue
Beber veio, e bradou-me lamentosa:
“Que! Filho meu, chegastes à escura treva!
É difícil aos vivos, entre enormes
E validas correntes; nau compacta
Há mister o Oceano invadeável
De Ílion, há muito errabundo, os sócios trazes?
Ítaca, ainda não vistes, a esposa tua?”
“Ah! minha mãe”, respondo, “urgiu-me a sorte
Avir o Orco interrogar Tirésias.
Não fui à nossa terra, ou mesmo à Grécia”[23].

Grizoste[24] diz que os heróis homéricos possuem característica que por sinal, vai além da nossa existência física: Aquiles precipitou-se pelas suas próprias mãos, Ulisses sentiu frustrações e Eneias lamentou o fato de não ter sucumbido com os troianos que pereceram na muralha de Tróia.
Virgílio tinha o objetivo de criar um poema cheio de vida, mas viu sua obra migrar de um espaço de luz para um espaço de sombras. Para Medeiros[25] o próprio poeta e afetado por essa mutação: no leito de morte quis destruir seu poema,em uma época de conturbadas amarguras.
Ao escrever sua epopeia ao imperador romano, Augusto, Virgílio, buscou nas obras gregas, preferencialmente em Ilíada e Odisseia, retratar em Eneida, que é considerada como uma das maiores epopeias latinas, a distorção de um herói que luta pela paz de Roma, juntos com seus guerreiros. Eneias é o herói escolhido por Virgílio para contar sua própria historia de vida, suas viagens e aventuras, extraindo elementos sobrenaturais contidas nas obras de Homéricas.
Virgílio tinha um objetivo ao criar seu maior poema, considerado para muitos críticos, como o principal poema da literatura latina enche-lo de vida como Medeiros[26] retrata em sua obra. A Eneida de Virgílio é uma obra distorcida das obras homéricas, Ilíada e Odisseia, visto que, o autor haveria lido estas obras.
REFERÊNCIAS:

GRIZOSTE, Weberson Fernandes. Os Timbiras: os paradoxos antiépicos da Ilíada brasileira, Coimbra, FLUC, 2013.
________, A dimensão anti-épica de Virgilio e o indianismo de Gonçalves Dias, Coimbra, CECH, 2011.
HOMERO.Ilíada. Trad.MENDES, Manoel Odorico, São Paulo, Martin Claret, 2007.
­­­________. Odisséia. Trad.MENDES, Manoel Odorico, São Paulo, Martin Claret, 2007.
MEDEIROS, Walter de, ANDRÉ, Carlos Asceno, PEREIRA, Virginia Soares, A Eneida em contraluz, Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos, 1992.
VIRGILIO, Eneida Brasileira, Bilíngue, Org. e anot. Paulo Vasconcelos et alii; trad. e anot. Odorico Mendes, Campinas, Unicamp, 2008



NOTAS
[1] Acadêmico do 6º período de letras no Centro de Estudos Superiores de Parintins, CESP-UEA.
[2] Docente em Língua Latina no Centro de Estudos Superiores de Parintins, CESP-UEA.
[3]Apud Grizoste, 2013, 40.
[4]Sellar apud Grizoste, 2013, 39.
[5]Posêidon: deus dos mares, in Odisseia, 2007, 23.
[6] Atena: deusa do pensamento, in Odisseia, 2007, 23.
[7] Canto I Ilíada, 2007, 25-26.
[8]Schlunk apud Grizoste, 2013, 40.
[9]Grizoste, 2013; 43.
[10] Medeiros, 1992, 12.
[11] Medeiros, 1992, 22.
[12]Apud Theodorakopoulos, 1997, 159 – 160.
[13]Apud Quinn, 1968, 278.
[14]Grizoste, 2011, 41.
[15]Willians apud Grizoste, 2011, 43.
[16]Mendes, 2007, 19.
[17] Canto XIII, Odisseia, 2007, 239-240.
[18]Grizoste, 2011, 43.
[19]O canto VI, está contido nas paginas 159 – 176, da tradução de Odorico Mendes,  narrando  os deuses que se retiram do campo de batalhas e os gregos avançam. Heitor e Eneias evitam que os troianos fujam. Diomedes, filho de Tideu, encontra-se com Glauco e sela sua fidelidade no combate. Heitor, seguindo o conselho de Heleno, oferece uma hecatombe a Minerva. Em seguida, ele vai ter com Páris e o encontra junto de Helena. Heitor se põe a conversar com Andrômaca e afaga seu filho ainda pequeno. Páris, tomando suas armas junta-se a Heitor e os dois voltam ao campo da peleja.   
[20]Apud Grizoste, 2011, 43.
[21] Canto II, Eneida, 2008, 72.
[22] Canto XIII, Ilíada, 2007, 485.
[23] Canto XI, Odisseia, 2007, 208.
[24]Grizoste, 2011, 28.
[25] In Grizoste, 2011, 29.
[26] In Grizoste, 2011, 29.