Marconde Maia
MILANI, Sebastião
Elias; SILVA, Daniel Marra da. A
sociolingüística na sala de aula de língua portuguesa: uma investigação
historiográfica S/D. Artigo apresentado em Pós- Graduação de Letras na UFG,
Faculdade de Letras.
“A
incorporação das teorias lingüísticas ao ensino de língua surgiu como uma forma
de fugir da tradição normativa e filosófica. Essas teorias ofereciam
perspectivas voltadas para reflexão da linguagem, isto é, processo de reflexão
sobre a língua possibilitaria ao aluno compreender suas variedades e
utilizá-las apropriadamente às situações e aos propósitos definidos.”
“Com
a incorporação dessas teorias, o ensino de língua materna iniciou uma ligeira
mudança de uma perspectiva centrada na tradição gramatical para uma perspectiva
centrada na competência comunicativa do aluno.”
“Muito
se tem discutido sobre o ensino de língua materna e as variedades padrão e
não-padrão da língua. Desses debates emergem argumentos pouco esclarecedores,
quando não equivocados.”
“Konrad
Koener (1996, p. 57) diz que (...) provem apenas um relacionamento generalizado
de que as teorias lingüísticas não se desenvolvem em total isolamento do clima
intelectual geral do período ou das atitudes particulares mantidas pela
sociedade que promoveu a atividade cientifica.”
“No
inicio da década de 1960, Labov iniciou sua investigação empírica sobre a
língua como ela é efetivamente empregada por falantes comuns, em suas
interações verbais diversificadas, no contexto social em que vivem.”
“Labov
percebeu que havia alguns problemas a ser resolvidos se a lingüística tivesse
que ir ao encontro do que as pessoas diziam.”
“Em
1967, enquanto lecionava na Universidade do Columbia, Labov propôs uma pesquisa
ao departamento de educação americana, no qual objetivava descobrir se o
dialeto falado pelas crianças negras do Harlem (bairro de Nova Iorque) tinha
alguma coisa a ver com o fracasso das escolas em ensiná-las a ler.”
“No
Brasil, transformações no ensino de língua portuguesa começaram a se fazer
sentir necessárias, a partir da década de 1960. Nesta década, o país enfrentava
um momento de crise política, social e educacional.”
“Na
busca por solução para o ensino de língua portuguesa, o governo assinou a “Lei
5.692”, que expressava uma orientação para o ensino de língua que misturava
idéias tradicionais da gramática normativa com idéias da “teoria de
comunicação”.”
“A
abertura política possibilitou rediscutir o ensino da língua. As idéias
lingüísticas definitivamente entram em debate e a gramática normativa foi
questionada. Foi nesse cenário, marcado
por intensas discussões teóricas e metodológicas do ensino, que a sociolingüística
trouxe para o centro dos debates a heterogeneidade e a diversidade
lingüística.”
“Diferente
da realidade norte-americana, em que preocupações relacionadas com questões
étnicas e a alfabetização promoveram o desenvolvimento de investigação
sociolingüísticas na sala de aula, no Brasil, os primeiros estudos apontaram
que a principal causa da crise escolar, que possibilitou a interferência da
sociolingüística nos debates, em defesa das variedades dialetais na sala de
aula, foi o grandioso aumento demográfico das regiões urbanas, ocasionado pelas
migrações rurais, nas décadas de 1960 e 1970.”
“Contudo,
não se pode esquecer das investidas promovidas pela Ditadura Militar, nos anos de 1960, pela
“democratização do ensino”, que faz conviver no espaço da sala de aula
experiências lingüísticas diversificadas.”
“Entre
os pesquisadores envolvidos no debate por uma educação lingüística adequada à
heterogeneidade lingüística brasileira, na década de 1980, estava Magda Soares
(1986). Conforme apontava o senso de 1980, apenas 64,7% da população de 7 a 14
anos estava matriculada no ensino de 1º grau. ”
“Seguindo
uma visão semelhante, nessa mesma década, estavam pesquisadores como Sírio
Possenti e Rodolfo Ilari (1987). Esses autores argumentavam contra o uso da
gramática normativa na sala de aula: “de todos os tipos de gramática que se
podem hoje discriminar, a gramática normativa é sem dúvida a menos útil”.”
“Dessa
forma, Magda Soares (op. cit., p. 61-62) diz que a escola colabora com a
perpetuação de divisão de classes: fracassando na função de levar as camadas a
permanecerem na condição de ‘dominadas’.”
“Magda
Soares (1986) ainda ressalta que a escola apenas informa aos alunos das classes
populares que existe uma maneira de falar considerada ‘legitima’, diferente
daquela que eles dominam, “mas não os possibilita o acesso a essas formas de
falar e escrever. Nega-lhes, pois, o acesso ao capital lingüístico socialmente
rentável, por cuja aquisição essa mesma escola seria responsável ”.”
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