quarta-feira, 22 de abril de 2015

FICHAMENTO DE CITAÇÃO - A SOCIOLINGUÍSTICA EM SALA DE AULA



Marconde Maia

MILANI, Sebastião Elias; SILVA, Daniel Marra da. A sociolingüística na sala de aula de língua portuguesa: uma investigação historiográfica S/D. Artigo apresentado em Pós- Graduação de Letras na UFG, Faculdade de Letras.


“A incorporação das teorias lingüísticas ao ensino de língua surgiu como uma forma de fugir da tradição normativa e filosófica. Essas teorias ofereciam perspectivas voltadas para reflexão da linguagem, isto é, processo de reflexão sobre a língua possibilitaria ao aluno compreender suas variedades e utilizá-las apropriadamente às situações e aos propósitos definidos.”

“Com a incorporação dessas teorias, o ensino de língua materna iniciou uma ligeira mudança de uma perspectiva centrada na tradição gramatical para uma perspectiva centrada na competência comunicativa do aluno.”

“Muito se tem discutido sobre o ensino de língua materna e as variedades padrão e não-padrão da língua. Desses debates emergem argumentos pouco esclarecedores, quando não equivocados.”

“Konrad Koener (1996, p. 57) diz que (...) provem apenas um relacionamento generalizado de que as teorias lingüísticas não se desenvolvem em total isolamento do clima intelectual geral do período ou das atitudes particulares mantidas pela sociedade que promoveu a atividade cientifica.”

“No inicio da década de 1960, Labov iniciou sua investigação empírica sobre a língua como ela é efetivamente empregada por falantes comuns, em suas interações verbais diversificadas, no contexto social em que vivem.”

“Labov percebeu que havia alguns problemas a ser resolvidos se a lingüística tivesse que ir ao encontro do que as pessoas diziam.”

“Em 1967, enquanto lecionava na Universidade do Columbia, Labov propôs uma pesquisa ao departamento de educação americana, no qual objetivava descobrir se o dialeto falado pelas crianças negras do Harlem (bairro de Nova Iorque) tinha alguma coisa a ver com o fracasso das escolas em ensiná-las a ler.”

“No Brasil, transformações no ensino de língua portuguesa começaram a se fazer sentir necessárias, a partir da década de 1960. Nesta década, o país enfrentava um momento de crise política, social e educacional.”

“Na busca por solução para o ensino de língua portuguesa, o governo assinou a “Lei 5.692”, que expressava uma orientação para o ensino de língua que misturava idéias tradicionais da gramática normativa com idéias da “teoria de comunicação”.”

“A abertura política possibilitou rediscutir o ensino da língua. As idéias lingüísticas definitivamente entram em debate e a gramática normativa foi questionada.  Foi nesse cenário, marcado por intensas discussões teóricas e metodológicas do ensino, que a sociolingüística trouxe para o centro dos debates a heterogeneidade e a diversidade lingüística.”

“Diferente da realidade norte-americana, em que preocupações relacionadas com questões étnicas e a alfabetização promoveram o desenvolvimento de investigação sociolingüísticas na sala de aula, no Brasil, os primeiros estudos apontaram que a principal causa da crise escolar, que possibilitou a interferência da sociolingüística nos debates, em defesa das variedades dialetais na sala de aula, foi o grandioso aumento demográfico das regiões urbanas, ocasionado pelas migrações rurais, nas décadas de 1960 e 1970.”

“Contudo, não se pode esquecer das investidas promovidas pela  Ditadura Militar, nos anos de 1960, pela “democratização do ensino”, que faz conviver no espaço da sala de aula experiências lingüísticas diversificadas.”

“Entre os pesquisadores envolvidos no debate por uma educação lingüística adequada à heterogeneidade lingüística brasileira, na década de 1980, estava Magda Soares (1986). Conforme apontava o senso de 1980, apenas 64,7% da população de 7 a 14 anos estava matriculada no ensino de 1º grau. ”

“Seguindo uma visão semelhante, nessa mesma década, estavam pesquisadores como Sírio Possenti e Rodolfo Ilari (1987). Esses autores argumentavam contra o uso da gramática normativa na sala de aula: “de todos os tipos de gramática que se podem hoje discriminar, a gramática normativa é sem dúvida a menos útil”.”

“Dessa forma, Magda Soares (op. cit., p. 61-62) diz que a escola colabora com a perpetuação de divisão de classes: fracassando na função de levar as camadas a permanecerem na condição de ‘dominadas’.”

“Magda Soares (1986) ainda ressalta que a escola apenas informa aos alunos das classes populares que existe uma maneira de falar considerada ‘legitima’, diferente daquela que eles dominam, “mas não os possibilita o acesso a essas formas de falar e escrever. Nega-lhes, pois, o acesso ao capital lingüístico socialmente rentável, por cuja aquisição essa mesma escola seria responsável ”.”

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