Marconde Maia Cruz
(UEA)
Adenilce
Oliveira de Souza Pinheiro (UEA)
Maria Celeste de
Souza Cardoso (UEA)
Resumo Expandido: Conforme
dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estástistica (IBGE,
2010) o município de Parintins se localiza à margem direita do Rio Amazonas, em
uma área de 5.978 quilômetros quadrados e fica a 369 quilômetros da capital,
Manaus, em linha reta e a 420 quilômetros por via fluvial. Saunier (2003) afirma
que a cidade é típica do interior amazonense e possui mais de 100 mil
habitantes, muitos oriundos de outros estados. Parintins é uma cidade marcada por diversos
traços socioculturais herdados pelos portugueses, espanhóis, japoneses e demais
viajantes de diferentes estados do território brasileiro, tendo em vista que a
cidade possuiu uma relevante colônia destes imigrantes. Em sua formação
histórica, a cidade é o resultado da miscigenação de três etnias que compõem a
população: o índio, o europeu e o negro, formando, deste modo, os mestiços. A
linguagem do povo parintinense surgiu da miscigenação destes povos que
colonizaram e habitaram nossa terra e possui uma grande importância, pois esses
traços linguísticos fizeram nascer nossa identidade cultural, o nosso linguajar.
Os traços socioculturais do povo parintinense são bastante fortes. Esta
pesquisa realizada nas comunidades de Macurany, Aninga e Parananema, para análise
morfológica da fala dos moradores, mostra que os adultos possuem um falar que
foge às regras gramaticais padrão enquanto que os jovens têm mais influência
linguística das escolas e também das universidades enriquecendo seus
vocabulários, criando novas palavras do mundo moderno. Este trabalho
fundamenta-se na Morfologia, a qual se designa como o estudo das formas das
palavras dividindo-se em três partes: flexiva, derivada e sintática. A
morfologia flexiva vem analisar as diferentes formas que uma mesma palavra se
encontra, isto é, sua variedade, enquanto que a derivacional trata das relações
entre paradigma diferentes – paradigmas separados. A morfologia estuda também
os gêneros, o número e o verbo em seu tempo. O morfema gênero como se sabe está
dividido em masculino e feminino “a
inerência do gênero é uma característica tanto do substantivo primitivo quanto
do derivado” (LAROCA, 2001; p. 45). Apesar de defendido por diferentes
gramáticos como processo flexional, se é que ele existe como tal para expressar
a categoria gênero nos nomes do português, consideramos que isso não é
relevante, uma vez que, como estamos percebendo, o gênero é uma categoria
inerente aos nomes do português e, na maioria deles, não existe uma marca
flexional para evidenciá-lo, ficando tal procedimento claro através da
concordância de outro determinante. Como exemplo, temos a seguinte frase
expressada pela moradora de uma das comunidades, “eu nunca vi meu pai e minha mãe se xingando”. Nota-se na frase
que os substantivos que designam pessoa tanto em masculino e feminino estão
destacados e identificam-se pelo sexo, a palavra pai indica o homem e o item
lexical mãe indica mulher. Mas há também outros itens como filho – filha, menino – menina etc. Assim, é possível fazer duas generalizações, quando se trata das classes
temáticas substantivas. A primeira é que “o feminino é realizado por formas de
tema em -a”; a segunda diz que “os adjetivos de tema em -o são masculinos”. A
partir dos exemplos acima como filho e menino, é possível encontrar a base
lexical desses substantivos /filh-/,
/menin-/ e a especificação do tema /-o/ para o masculino e o tema -a para o
feminino, como em filha e menina. Os morfemas de número em língua portuguesa se
caracterizam em singular e plural, como no exemplo: “os meus filhos estudam de
manhã lá na escola”. É possível verificar que o substantivo em destaque
“filhos” se flexiona junto com o pronome e também com o artigo em sua
pluralidade. O morfema (plural) realiza-se através dos alomorfes encontrados na
gramática da língua portuguesa /s/, /es/, /is/, condicionados a determinados
contextos fonológicos. Nota-se que na frase citada acima se encontra a palavra,
filhos, o alomorfe /s/ indica a
pluralidade deste item lexical. Observaremos agora outras palavras expressadas
pelos moradores destas três comunidades em estudo, tanto em seu singular como
também em plural: pai – pais, família –
famílias, mãe – mães, filho – filhos, menino – meninos etc. Os morfemas
verbais possuem uma estrutura padrão que pode ser representado no seguinte modo
– (((R + ST) + SMT) + SNP), sendo o R – a raiz, ST – sufixo temático, SMT –
sufixo modo temporal, SNP – sufixo número pessoal e por último o SVN – sufixo
verbo nominal. Em outra frase estipulada por um dos moradores das comunidades “os meus filhos estudam de manhã lá na escola”. O verbo em destaque está na
terceira pessoa do plural do presente do indicativo e flexiona-se de acordo com
o substantivo filhos, com o pronome
possessivo meus e também com o artigo
os todos em sua pluralidade. Na gramática
padrão, vamos ter as seguintes colocações deste verbo: (((R = estud + ST = a)
+SMT= 0) + SNP= m). Outras formas também podem ser observadas, (((R = estud +
ST = a) + SMT = va) + SNP = mos); SVN(((estud + a) + ndo). A pesquisa nas
comunidades citadas acima foi realizada por procedimentos metodológicos, como o
método indutivo, com dados coletados por meio de entrevistas com os moradores,
buscando analisar de forma morfológica as falas destes residentes nessas
comunidades, partindo do particular para o geral. Foi uma pesquisa de natureza
qualitativa uma vez que tem como objetivo principal analisar essas falas e também
é uma pesquisa bibliográfica, buscando informações de autores que falam sobre a
morfologia, bem como de campo, realizando entrevistas com esses moradores e coletando dados para a análise morfológica das falas de
cada um. Apesar dos aspectos que tornam um homem usuário, a língua nunca é utilizada
pelos seus falantes de maneira uniforme. Surgem então as variedades na
expressão da língua, chamada de variação linguística. De forma geral, essas
variações são encontradas nos seguintes termos da linguagem: variação cultural
– que diferencia a língua de região para região; variação sociocultural –
grupos sociais que manifestam a mesma língua; variação expressiva –expressão
literária da língua submetida à criatividade. Os dados coletados dos moradores
das comunidades do Macurany, Aninga e Parananema, para análise morfológica, nos
fez perceber que a utilização de uma linguagem coloquial que foge às regras
padrão da gramática, já os jovens por influência das universidades, escolas públicas
e meios de comunicação integrados como o celular, computador etc., enriqueceram
mais seus vocabulários, internalizando essas palavras e expressando-as entre si
em grupos sociais ou até mesmo nas comunidades em que vivem. Lyons (1987) diz
que um dos processos de expansão dos vocabulários é a incorporação de novas línguas.
Com a industrialização, cresceu a publicidade privilegiando ainda mais o áudio
visual, incluindo os computadores, notebooks, celulares e demais aparelhos eletrônicos
que transmitem a comunicação entre os jovens.
REFERÊNCIAS
IBGE. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Divisão
Territorial do Brasil. Pagina visita em 02 de Abril de 2014 às 10h35min.
LAROCA, Maria
Nazaré de Carvalho. Manual de morfologia
do Português. 2° ed. Campinas, São Paulo; Juiz de Fora. MG: UFJF, 2001.
LYONS, John. Linguagem e Linguística: uma introdução.
Rio de Janeiro: LTC, 1987.
SAUNIER,
Tonzinho. Parintins: memorias dos
acontecimentos históricos. Manaus; Valer, 2003.