segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A descoberta do inconsciente


Passar para vocês na verdade um texto de Freud só que simplificado com uma linguagem mais fácil de se compreender. Pois vamos combinar , que só quem quer muito entender Freud e se interessa por psicologia e têm tempo e persistência para ler a sua obra, para conseguir entender ... Pensando nisso e na importância que os ensinamentos dele têm em nossas vidas que resolvi passar para vocês um pouco do que aprendi , do que li, do que estou aprendendo atualmente na faculdade de comunicação, do que aprendi na vida, copiar algumas frases dele para vocês e explicá- las com meu entendimento. Então vamos ver se da certo e se vocês irão gostar??? Se vai ser útil para vocês? Bom, como eu gosto de tentar e não tenho medo de dar a cara a tapa rs, aqui vamos nós.
"Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior?" Perguntava- se Freud.
O esquecido era sempre algo penoso para a pessoa, era exatamente por isso que era esquecido e o penoso não significava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia referir-se à algo bom que se perdeu ou que foi intensamente desejado mas censurado moralmente.
Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso às suas idéias ( A associação livre é o método terapêutico por excelência da psicanálise. Freud o inventou em substituição ao hipnotismo no tratamento das neuroses. A associação livre e os sonhos formam o que Freud chama de via régia para o inconsciente. Na associação livre o paciente é orientado a dizer o que lhe vier à cabeça, deixando de dar qualquer orientação consciente a seus pensamentos. É essencial que ele se obrigue a informar literalmente tudo que ocorrer à sua autopercepção, não dando margem a objeções críticas que procurem pôr certas associações de lado, com base no fundamento de que sejam irrelevantes ou inteiramente destituídas de sentido).
Observo que muitas vezes, eles ficavam envergonhados com algumas idéias ou imagens que já haviam ocorrido antes em suas vidas. A essa forças psíquica que se opunha a tornar CONSCIENTE e revelar um pensamento, Freud denominou RESISTÊNCIA. E chamou de REPRESSÃO o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do SINTOMA.
Freud com o tempo pôde concluir que tudo que tinha sido esquecido de alguma forma fora aflitivo; e que ao mesmo tempo havia algo no próprio individuo que tentava a todo custo não ser lembrado. Surgia a teoria da resistência e por conseguinte, a do
recalque ( repressão).
Estes conteúdos psíquicos " localizam- se no INCONSCIENTE.
Essas descobertas constituíram a base principal da compreensão das neuroses e uma modificação do processo terapêutico. Seu objetivo era descobrir as repressões e suprimi -las através de uma juízo que aceitasse ou condenasse definitivamente o excluído pela repressão. Considerando este novo estado de coisas , deu ao método de investigação e CURA resultante o nome de PSICANÁLISE em substituição ao de método catártico e hipnótico" .
Vou dar um exemplo:
"Catarse é a purificação das almas por meio da descarga emocional provocada por um drama choro, desespero. E não pode ser ocasional, mas sim acolhida pelas escolhas do individuo" . O Paciente não esta sendo analisada pelo seu analista ainda ela só esta em catarse ou podemos dizer ainda em psicoterapia analítica, mas não em análise.

Vocês sabiam que na época Freud pedia para seus pacientes não falar de seus problemas para seus amigos etc???

 Deixar para falar, chorar na hora na analise pois desta forma eles não deixariam de ser trabalhados no momento em que estes conteúdos viessem à memória . Se eles se esvaziassem no momento de muita dor com uma pessoa querida quando chegassem na próxima consulta provavelmente não voltariam a falar daqueles mesmos conteúdos pois chegariam lá mais aliviados e certamente não falariam com a intensidade que falaram para os amigos e assim certas questões deixariam de ser avaliadas pelo analista. Não que seja prejudicial desabafarmos com nossos amigos, pelo contrário, isso nos traz conforto e alívio muitas vezes e é reconhecidamente terapêutico, mas aqui estou abordando esta questão sob o prisma de uma teoria psicanalítica, e esta sugestão era dada pelo próprio Freud aos pacientes que estavam em análise, não como um conselho às pessoas em geral.
Na época ele também deixou bem claro que analise deveria ser feita todos os dias e da importância do pagamento. Pois o dinheiro tem um poder no ser humano e isso gera um compromisso mais serio do paciente com tratamento!
"A psicanálise não pode ser amaciada, amansada. O analista não poupa o analisando do encontro com o real ( em nada ). Isso é psicanálise !!!
“A resposta clássica freudiana: uma análise deve custar caro para aquele que a faz. Porque a pessoa não deve imaginar que o analista queira qualquer outra coisa do analisando senão o pagamento. Tira a expectativa do Outro. O pagamento tira a complementação do Outro. É necessário um valor de troca absoluto que possa sustentar uma multiplicidade interpretativa, para manter o pacto em aberto – o impacto.” (Forbes, 1991).
O valor cobrado numa análise é uma intervenção do analista.
Voltando ao nosso assunto de hoje o inconsciente: Esse nosso estado, que todos nós temos, é importantíssimo! Ele que " manda " em todos nossos desejos, impulsos, tristezas etc.. Por isso a importância de saber o que se passa em nosso inconsciente. Se temos muita coisa triste, traumas guardadas e não colocamos para fora podemos passar uma vida de amargura e cometendo erros sem saber porquê.
Porque inconscientemente nos dias atuais passamos por alguma coisa que nos remete ao passado e quando não colocamos para fora cometemos falhas, repetimos os mesmos erros pois não sabemos porque estamos fazendo, porque enquanto esta no inconsciente não sabemos .
Por isso a importância da analise em minha vida! E no meu ver na vida de todo ser humano! Todos nós precisamos! Todos nós temos problemas, uns mais, uns menos mas temos . E o legal é enxergarmos isso e desejar ser melhor, enfrentar os fantasmas para não cometer as mesmas falhas que muitas vezes nos machucam e machucam quem amamos!
Não vou enganá -los, analise é algo que funciona muito só que demora! Ela cura, mas lentamente pois ela vai na ferida, na alma! Não pode uma pessoa que foi acostumada a agir e pensar de uma maneira digamos "errada " agora ter consciência e de repente virar outra pessoa só porque esta fazendo analise! Isso não existe!!! Ela vai sim te ajudar a mudar se você quiser.
Mas lentamente e isso é bom pois as grandes e estruturais mudanças, os grande feitos demoram , nunca são da noite para o dia.
NÃO DESISTEM DAS COISAS SÓ PORQUE ELAS DEMORANDO MAIS DO QUE VOCÊS GOSTARIAM OU IDEALIZARAM. VOCÊS IRÃO VER PEQUENAS MUDANÇAS AO LONGO DE SEUS DIAS! !! ASSIM COMO EU VEJO !!! DIA PÓS DIA!!!

O inconsciente é o objeto de estudo da psicanálise e, para as linhas dinâmicas, ele é o responsável pela organização do psiquismo humano, é a base de toda a vida psíquica. Para as abordagens psicodinâmicas, os fenômenos conscientes são apenas uma manifestação do inconsciente. Outras manifestações do inconsciente são o sonho, a histeria, atos falhos, lapsos e outras.
O termo inconsciente, utilizado de forma adjetiva, pode ser usado para se referir a coisas que não estão conscientes. Esta seria uma definição num sentido descritivo porque, num sentido tópico, o inconsciente designa um dos sistemas do aparelho psíquico definido por Freud, que se constitui de conteúdos, aos quais foi negado o acesso ao plano da consciência, por se tratarem sempre de algo penoso para o indivíduo. O inconsciente pode representar o ponto mais importante da descoberta Freudiana. 
A noção de inconsciente na psicanálise, surgiu das experiências de tratamento realizadas por Freud, que demonstrou que o mundo psíquico não pode ser reduzido aos conteúdos conscientes e que certos conteúdos só se tornam acessíveis depois que superamos algumas resistências ou repressões. Freud considerava a existência do inconsciente como um “lugar psíquico”, especial, que deve ser concebido como um sistema que possui conteúdos, mecanismos e provavelmente uma “energia” específica. O sonho foi o principal caminho que Freud trilhou para a descoberta do inconsciente. Para o inconsciente, não existem as noções de passado e presente e os conteúdos podem já terem sido conscientes ou podem ser genuinamente inconscientes.




RESUMO DE OS ASSASSINATOS NA RUA MORGUE DE EDGAR ALLAN POE


POE, Edgar Allan 1809-1849.
http://wilsonletras.files.wordpress.com/2010/07/dsc003322.jpg?w=300&h=225Os Assassinatos na Rua Morgue; A carta roubada/ Edgar Allan Poe; [tradução Erline T.V. dos Santos, Ana Maria Murakani, Samantha Batista]. – Rio de Janeiro: Paz e Terra.
O gênero literário policial moderno nasce com a publicação de Os Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, em 1841. Com essa obra o autor passou a ser considerado precursor do moderno conto policial. O conto possui como personagem central um francês Monsieur que apresenta um sistema próprio de dedução baseado na sua profunda capacidade de observação dos fatos. A obra possui todos os elementos de historia policial, desde o crime até o final surpreendente, mas o assassino não é um gênio criminoso, mas um assustado animal selvagem perdido na cidade. Narrado em terceira pessoa e com poucas informações sobre o narrador. Ele não nos diz de onde vem ou quando se passa a história, tudo o que sabemos é que se passa em Paris no século XIX. O narrador conhece Monsieur C. Auguste Dupin em uma livraria e os dois acabam se tornando amigos. O narrador, homem de posses, aluga uma mansão deserta que, segundo reza a lenda, é assombrada. Ele e Monsieur Dupin concordam em morar juntos pelo tempo em que o narrador ficar em Paris. Monsieur Dupin é um homem muito inteligente com um enorme talento para análise, capaz de saber ate o que narrador esta pensando baseando sua analise somente nos fatos que aconteceu durante o dia. E num dia de caminhada pela rua deparam com notícia perturbadora nos jornais sobre um assassinato duplo com extrema violência e sem razão aparente, mãe e filha, na rua Morgue, uma viela deserta de Paris. A polícia francesa não tem nenhuma pista sobre o assassino, mas eles prendem um funcionário do banco. Então Monsieur Dupin acredita que pode libertar o homem, encontrando o assassino verdadeiro. Com a permissão do chefe de polícia, Monsieur Dupin investiga a cena do crime e chega a uma conclusão com extrema capacidade de raciocínio e descobre que o crime fora cometido por um orangotango que com medo de apanhar do chicote do seu dono o macaco foge e vai parar na rua Morgue, onde é atraído pelas luzes vindas do quarto de Madame L’Espanaye. Ele escala a janela e agarra a Madame com intenção de lhe fazer a barba. Sua filha desmaia. Quando a Madame começou a chutar e gritar para se livrar do macaco, ele se torna violento e corta sua garganta. Depois estrangulou a filha com suas próprias mãos. Quando começou a se acalmar ele entrou em pânico, porque se o seu dono viu iria lhe castigar, então ele começou a quebrar coisas e finalmente escondeu o corpo da Mademoiselle L’Esapanaye na chaminé e jogou o corpo da Madame pela janela, fugindo logo depois. A grande diferencia nesta história é que, apesar de ser considerada a primeira história policial moderna e de ter todos os elementos para isso, o criminoso é um animal irracional e não pode ser responsabilizado por seus atos.
wilsonletras.wordpress.com/.../resumo-de-os-assassinatos-na-rua-mor..

O burrinho pedrês (Conto de Sagarana), de Guimarães Rosa


Análise da obra

Conto narrado em 3ª pessoa. A onisciência do narrador é propositalmente relativizada, dando voz própria e encantamento às narrativas e acentuando sua dimensão mítica e poética. 

Em O burrinho pedrês, primeiro dos nove contos, Guimarães procura mostrar, tendo como pano de fundo o mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez de ser útil. É o caso do burrinho Sete-de-Ouros: a gente segue a esperteza mansa do bicho, a sua finura de instinto e inteligência que o faz poupar-se, furtar-se a choques e maus pisos e, por fim, orientar-se e salvar-se numa cheia onde os cavalos afogam, carregando um bêbado às costas e ainda outro náufrago enclavinhado no rabo - ressalta Oscar Lopes.

O burrinho pedrês é uma estória que metaforiza a experiência da velhice, um burrinho experiente sabe se orientar onde cavalos de boa montaria sucumbem.

Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber.

A ironia do escritor vale-se do decadente burrinho para pôr a nu a onipotência presunçosa do homem, que julga controlar o próprio destino, ignorando as inesperadas surpresas que este lhe reserva. A perspectiva místico-religiosa, a luta entre o bem e o mal, os riscos morais que acompanham o homem no perigoso ofício de viver, são os temas preponderantes que alimentam a ficção.

Em Sagarana renasce o anônimo “contador de estórias”, o homem-coletivo que se enraíza nos rapsódias gregas e nas canções de gesta medievais. Desde o início do conto ("Era um burrinho pedrês...") esboça-se claramente a atitude ingênua e espontânea da “palavra lúdica”, que não aprisiona o falar nos limites rígidos do individualismo, mas se identifica com a palavra anônima e coletiva.

Seja pela fórmula lingüística caracterizadora da narrativa elementar, da fábula, da lenda ("Era um burrinho..."), tempo e modo verbais que, de imediato, tiram à narrativa o caráter de coisa datada, para projetarem na esfera intemporal do universo de ficção; seja pela mescla de precisão e imprecisão documental no registro do espaço (vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão); seja pela dimensão antropomórfica (forma humana) que é dada à personagem central, o “burrinho-gente”, e que situa a narrativa na fronteira entre o real e o mágico; seja pela funcionalidade das cantigas inseridas no fluxo narrativo, tudo isso e muito mais nos revela, no universo da palavra rosiana, a presença do “homo ludens” (homem lúdico), descompromissado com as estruturas convencionais do pensamento lógico.

A trama desse conto, como nas demais narrativas de Guimarães Rosa, é relativamente simples. Publicado pela primeira vez em 1946, O burrinho pedrês é uma história sugerida por um acontecimento real, passado no interior de Minas Gerais, envolvendo um grupo de vaqueiros. É a história da condução de uma boiada em dia de fortes chuvas, em algum ponto indefinido do sertão, sob a tensão de uma maquinação ameaçadora de ciúme e crime. O seu desfecho, de todo surpreendente, só poderia ser ideado por um mestre da palavra e da criação literária. O foco da narrativa está centrado em um burrinho pedrês, que é testemunha de um trágico acidente. Em contraponto com a intriga que se desenvolve entre os boiadeiros, há episódios relacionados com o ciclo mítico do boi, onipresente na vida sertaneja. Pairando sobre tudo e todos, destaca-se a figura sábia e intensamente "humana" do burrinho pedrês, que aparece pouco na ação mas, como citado, domina o universo da narrativa.

O cenário é a Fazenda da Tampa, do Major Saulo, no interior de Minas Gerais.

O burrinho Sete-de-Ouros, protagonista da história, simboliza o peso da vida quando “Carregado de algodão”, o trabalho do burrinho, e metaforiza a carga dos homens, o peso do mundo, como fardos de algodão. “Preguntei: p’ra donde ia?” – a forma arcaica do verbo perguntar sugere a indagação permanente dos homens, sábios e filósofos: para quê?, por quê?, de onde?, para onde?. “P’ra rodar o mutirão” alude ao esforço coletivo, ao dever de solidariedade que o burrinho cumprirá na sua hora e na sua vez.

Desde esse primeiro conto, estão presentes os elementos fundamentais para compreendermos os contos de Sagarana. O nome do burrinho, Sete-de-Ouros, é recoberto pela magia de um número místico (sete) e pela força simbólica do ouro, indicador de superação e de transcendência paralquimistas. A travessia, a superação de obstáculos por ocultos caminhos é uma imagem freqüente em Guimarães Rosa, como também a presença de forças mágicas, da natureza, atuando sobre o mundo e mostrando as possibilidades de os fracos se tornarem fortes, de se saber uma vida no resumo exemplar de apenas um dia.

Personagens

Sete-de-Ouros - animal miúdo e resignado, idoso, muito idoso, beiço inferior caído. Outros nomes que tivera ao longo de anos e amos: Brinquinho, Rolete, Chico-Chato e Capricho. 
Major Saulo - corpulento, quase obeso, olhos verdes. Só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo. Estava sempre rindo: riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre; riso mudo, de normal. Não sabia ler nem escrever, mas cada ano ia ganhando mais dinheiro, comprando mais gado e terras. 
João Manico - vaqueiro pequeno que montou o burrinho Sete-de-Ouros na ida. Na volta, trocou de montaria. Na hora de entrar na água, refugou, alegando resfriado, e escapou da morte. 
Francolim - espécie de secretário do Major Saulo, encarregado de pôr ordem nos vaqueiros. Obedece cegamente às ordens do Major. Foi salvo, na noite da enchente, pelo burrinho Sete-de-Ouros. 
Raymundão - vaqueiro de confiança do Major Saulo. Enquanto tocam a boiada, vai contando a história do zebu Calundu. 
Zé Grande - vai à frente da boiada, tocando o berrante. 
Silvino - vaqueiro; perdeu a namorada para Badu e planejava matar o rival na volta, depois de deixarem a boiada no arraial.

Resumo do conto 

Na Fazenda da Tampa, do Major Saulo, os homens estão ultimando os últimos preparativos para sair pelo sertão, tocando uma boiada de bois de corte. O dia é de chuva, mas ela ainda não veio. Major Saulo ordena que os homens preparem os animais. Por zebra, o burrinho Sete-de-Ouros, presente ali na varanda da casa grande, também é escolhido para a viagem. Para montá-lo, o Major escolheu o vaqueiro João Manico.

Raymundão conta a história do touro Calundu. Não batia em gente a pé, mas gostava de correr atrás de cavaleiro. Certa vez, na proteção de um grupo de vacas com seus bezerros novinhos, Calundu enfrentou uma onça preta, amedrontando a fera e pondo-a para correr. Certa feita, o touro Calundu matou Vadico, filho do fazendeiro Neco Borges. O pai, vendo filho ensangüentado no chão, puxou o revólver para matar o touro. Vadico, antes de morrer, pediu que o pai não matasse Calundu. Neco Borges mandou o touro para outra fazenda para ser vendido ou dado a alguém. Raymundão foi quem levou o bicho. O zebu ficou uma noite apenas no curral. No outro dia, estava morto. 

Depois da chuva grossa, a boiada chegou ao córrego da Fome. Estava cheio. A travessia era perigosa, e o Major Saulo pediu cautela. Ali já morrera muita gente. Mas a travessia é feita sem perda. Até o Sete-de-Ouros atravessou sem reclamar.

Em determinado ponto do caminho, Major Saulo ordenou que Francolim trocasse de montaria com João Manico. A ordem foi obedecida. Francolim fez um pedido ao Major: que, na entrada do povoado, a troca fosse desfeita. Não ficava bem para ele, encarregado do Major, ser visto montado no burrinho Sete-de-Ouros.

Badu está na fazenda há apenas dois meses e já tomou a namorada do Silvino. Por isso, os dois viraram inimigos, um querendo prejudicar o outro. Francolim já avisou o major sobre o perigo de um matar o outro. Raymundão acha que o caso não é para morte. A moça é meio caolha. O casamento com Badu já está marcado. Raymundão, em prosa com o Major, informou que Silvino vendeu umas quatro cabeças de gado por preço abaixo do normal. Outra informação que veio do Francolim: Silvino está com bagagem além do normal. O Major Saulo, antes da chegada ao povoado, determinou que Francolim, na volta, vigie Silvino o tempo todo. O Major está convencido de que Silvino já planejou a morte de Badu.

A chegada ao povoado foi uma festa. O povo, mesmo com a meia-chuva, foi para o curral da estrada de ferro ver o embarque. Depois, os animais ficaram descansando enquanto os vaqueiros andavam um pouco pelo povoado.

Na hora de ir embora, cada um pegou a sua montaria. Badu ficou por último: estava bêbado e tinha ido comprar um presente para sua morena. Por maldade, deixaram-lhe o burrinho Sete-de-Ouros. Na saída do povoado, alguém vaiou: Badu era por demais grande para o burrinho pedrês, os pés iam quase arrastando no chão. Já no fim do lugar, Francolim estava parado no meio da estrada, esperando Badu.

Francolim deixou Badu para trás e foi juntar-se ao grupo. Queria mesmo era ficar de olho em Silvino. Os dois, Silvino e o irmão Tote, iam bem na frente dos dois. Tote tentava dissuadir o mano para não matar Badu. Mas Silvino estava determinado. Esperava apenas o momento certo para fazer o serviço e cair no mundo.

João Manico, por insistência de todos, contou mais uma vez a história da boiada que estourou à noite, quando o Major Saulo, ainda novo, era tratado por Saulinho. No estouro, de madrugada, o gado passou por cima dos dois vaqueiros que estavam de vigia. Deles, só restou uma lama cor de sangue.

Viajavam à noite. De repente, os cavalos empacaram, pressentindo o mar de água. O Córrego da Fome transbordara, inundando tudo bem alem das margens. Todos aprovaram a idéia de esperar Badu e o burrinho Sete-de-Ouros. Se o burro entrasse na água, todos o seguiriam. É que burro não entra em lugar de onde não pode sair. 

Sete-de-Ouros entrou levando Badu ás costas. Os cavalos seguiram-no. E foi uma tragédia: oito vaqueiros mortos naquela noite. Benevides, Silvino, Leofredo, Raymundão, Sinoca, Zé Grande, Tote e Sebastião. O burrinho Sete-de-Ouros, com Badu agarrado às crinas e Francolim agarrado à cauda, conseguiu atravessar o mar de águas em que se transformara o pequeno córrego. Já em terra firme, livrou-se de Francolim e seguiu ligeiro para a fazenda. Ali, livraram-no do vaqueiro, que dormia, e dos arreios.